Os 12 Trabalhos de Hércules
é um trabalho conjunto elaborado
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8º Trabalho
“A destruição da Hidra de Lerna”
O Controle e superação dos desejos. A sua maior prova.
Mitologia
Conta a lenda que na antiga terra de Argos ocorreu uma seca. Amímona que reinava nessas terras, procurou a ajuda de Neptuno. Este recomendou que se batesse numa rocha, e quando isto foi feito, começaram a correr três correntes cristalinas; mas logo uma hidra fez ali a sua morada.
O mestre disse a Hércules: “Para além do Rio Amímona, fica o fétido pântano de Lerna, onde está a hidra, uma praga para as redondezas. Nove cabeças tem esta criatura, e uma delas é imortal. Prepara-te para lutar com essa asquerosa fera e não penses que os meios comuns serão de valia; se uma cabeça for destruída, duas aparecerão em seu lugar.”
Hércules estava ansioso e antes de partir, seu Mestre ainda lhe disse: “Uma palavra de aconselhamentos só, posso dar. Nós nos elevamos, nos ajoelhando; conquistamos, nos rendendo; ganhamos, dando. Vai, oh filho de Deus e filho do homem, e conquista.”
Chegando ao estagnado pântano de Lerna, que era um charco que desanimava quem dele se aproximasse e cujo mau cheiro poluía toda a atmosfera em um raio de sete milhas; Hércules teve que fazer uma pausa pois o simples odor por pouco o derrotava. As areias movediças eram uma ameaça e mais uma vez Hércules rapidamente retirou seu pé para não ser sugado para dentro da terra que cedia. Finalmente ele descobriu onde se ocultava a hidra.
Numa caverna de noite perpétua vivia a fera, porém não se mostrava e Hércules inutilmente vigiava. Recorrendo a um estratagema, ele embebeu suas setas em piche ardente e as despejou directamente para o interior da caverna onde habitava a horrenda fera. Uma enorme agitação se seguiu e a hidra com as suas nove e zangadas cabeças emergiu, chicoteando a água e a lama furiosamente. Com três braças de altura, algo tão feio como se tivesse sido feito de todos os piores pensamentos concebidos desde o começo dos tempos. A hidra atacou, procurando envolver os pés de Hércules que saltou e lhe deu um golpe tão severo que logo decepou uma das cabeças, mas mal a horrorosa cabeça tocou o solo, duas cresceram em seu lugar. Repetidamente Hércules atacou o monstro, mas ele ficava cada vez mais forte. Então Hércules lembrou-se das palavras do Mestre: “nós nos levantamos ajoelhando”.
Pondo de lado a sua clava, Hércules se ajoelhou, agarrou a hidra com suas mãos nuas e ergueu-a. Suspensa no ar, a sua força diminuiu. De joelhos, então, ela sustentou a hidra no alto, acima dele, para que o ar purificado e a luz pudessem surtir o seu efeito. O monstro, forte na escuridão e no lodo, logo perdeu a sua força quando os raios do sol e o toque do vento o atingiram. As nove cabeças caíram, mas somente quando elas jaziam sem vida Hércules percebeu a cabeça mística que era imortal. Ele decepou essa cabeça e a enterrou, ainda sibilante, sob uma rocha.
Astrologia
Este trabalho está associado ao signo de escorpião. O verdadeiro teste de Escorpião nunca tem lugar antes que o estudante fique coordenado, antes que a mente, a natureza emocional e a natureza física estejam funcionando como uma unidade. Então o homem entra em Escorpião onde o seu equilíbrio é subvertido e o desejo parece exagerado, quando ele pensava que se havia livrado dele.
Aqui ele descobre que a personalidade não deve ser morta, nem pisoteada; ele deve ser reconhecida como um triplo canal de expressão para três aspectos divinos. Tudo depende de se nós usamos a tríplice personalidade para fins egoístas. Resumindo: em Escorpião o Ego está determinado a matar o pequenino ego para ensinar-lhe o significado da ressurreição. Em Escorpião também, o homem é testado para ver quem vai triunfar, a forma ou o Cristo, o Eu Superior ou o eu inferior, o real ou o irreal, a verdade ou a ilusão.
Foi dito a Hércules que encontrasse a hidra de nove cabeças que vivia num fétido e húmido pântano. Este monstro tem a sua contra parte que habita nas cavernas da mente, na escuridão e lama dos recessos obscuros da mente, onde ele floresce. Profundamente alojada nas regiões subterrâneas do subconsciente, ora calma, ora explodindo em tumultuado frenesim, a fera estabelece morada permanente. Não é fácil descobrir a sua existência e lutar contra um inimigo tão formidável é de facto uma tarefa heróica para o homem. Uma cabeça decepada, e eis que outra cresce no seu lugar. Toda a vez que um desejo, ou pensamento baixo é eliminado, outro toma o seu lugar.
Hércules fez três coisas: ele reconheceu a existência da hidra, procurou pacientemente por ela, e finalmente destruiu-a.
É necessário ter discriminação para reconhecer a sua existência; paciência para descobrir a sua toca; humildade para trazer lodosos fragmentos do subconsciente à superfície, e expô-los à lua da sabedoria.
Enquanto ele lutou no pântano, no meio da lama e das areias movediças, ele foi incapaz de dominar a hidra. Ele teve de erguer o monstro no ar; isto é, deslocar seu problema para outra dimensão para poder resolvê-lo. Com toda a humildade, ajoelhando-se na lama, ele teve de examinar seu dilema à luz da sabedoria e na elevada atmosfera do pensamento que buscava. É dito que uma das cabeças é imortal o que implica que toda a dificuldade, por mais terrível que possa parecer, contem um jóia de grande valor.
Nenhuma tentativa para dominar a natureza inferior e descobrir aquela jóia, jamais será fútil.
A cabeça imortal, separada do corpo da hidra, é sepultada sob uma rocha, isto implica que a energia concentrada que cria um problema ainda permanece, purificada, redireccionada e aumentada após a vitória ter sido conquistada. Tal poder deve ser correctamente canalizado e controlado. Sob a rocha da vontade persistente, a cabeça imortal torna-se uma fonte de poder.
A tarefa tinha nove facetas e cada cabeça da hidra representa um dos problemas que assaltam a pessoa corajosa que busca conquistar o domínio de si mesmo. Três dessas cabeças simbolizam os apetites associados ao sexo, o conforto e o dinheiro. Os próximos três dizem respeito às paixões do medo, do ódio e do desejo de poder. As últimas três cabeças representam os vícios da mente humana não iluminada: orgulho, separabilidade, e crueldade.
As dimensões da tarefa que Hércules empreendeu são assim claramente aparentes. Ele teve que aprender a arte de transmutar as energias que tão frequentemente precipitam os seres humanos em tragédias. As nove forças que, desde o princípio dos tempos, trouxeram destruição entre os homens, tiveram de ser redireccionadas e transmutadas. Ainda aspiramos à conquista espiritual que Hércules alcançou.
Os problemas que surgem do mau uso da energia conhecida como sexual ocupam nossa atenção a cada instante. O amor ao conforto, à luxúria e às posses externas ainda cresce. A luta pelo dinheiro como um fim em vez de um meio reduz as vidas de incontáveis homens e mulheres.
Assim a tarefa de destruir as primeiras três cabeças continua a desafiar as forças da humanidade, milhares de anos depois Hércules haver realizado o seu extraordinário feito. As três qualidades do carácter que Hércules tinha de expressar eram a humildade, a coragem e a discriminação. Humildade para ver o seu compromisso objectivamente e reconhecer as suas falhas; coragem para atacar o monstro que jazia enroscado nas raízes da sua natureza; discriminação para descobrir uma técnica para enfrentar o seu inimigo mortal.
Tarot
Com os cavalos do Carro dominados, o herói avança para a Justiça. Com esta energia ele terá de provar que as suas decisões são tomadas em consciência, usando o mental tão bem como o emocional. E assim o faz, nesta tarefa Hércules demonstra que o seu lado racional está activado e que prevalece em relação aos seus instintos naturais, ele não é mais um animal instintivo mas sim um animal racional, que sabe usar sensatamente cada um.
A Justiça tem pouco a ver com o que a palavra justiça representa para nós actualmente. A Justiça deveria ser chamada de Equilíbrio para evitar que julguemos tratar-se aqui de um momento em que as contas se vão acertar. A Justiça representa um momento de avaliação, sim, mas um momento de avaliação em que cada um terá de provar que alcançou o equilíbrio interior dos opostos para poder avançar. Por isso, ela é representada com uma balança, é o momento em que pesamos quais dos dois lados estamos mais a utilizar e reflectir sobre o assunto para evitar excessos. A Balança deve estar equilibrada, nem mais emoção, nem mais racional, e como conseguimos isso? Ajustando cada dia. Em cada acção compreender como temos tendência para agir e modificar. Foi o que Hércules fez, pois a sua primeira atitude foi agir como sempre, até que parou, ponderou e ajustou.
Nesta tarefa esconde-se uma aprendizagem importante, não mais que as outras, mas bastante importante. O Héroi encontra-se perante um estado avançado de iniciação e, como tal, tem na sua frente uma prova a esse nível. No Tarot podemos equipara esta prova com a passagem do Arcano XVIII, a Lua, para o XIX, o Sol, que é complicada por ser brusca. Passar de um estado de inconsciência, onde utilizamos os nossos dons de forma instintiva e não racionalizada, para outro onde sabemos e escolhemos o que fazemos e quando o fazemos, não é fácil e muitos iniciados falham em superar esta prova.
Quando mergulhamos nas nossas águas interiores, muitas vezes ficamos lá prisioneiros pois o lodo pode ser muito e a consciência para lidar com ele pouca. Era o que estava acontecer com o nosso herói, mas tal como acontece connosco, há sempre uma voz que nos avisa e aconselha. Essa voz aconselhou-o a elevar e assim é sempre. Quando conseguimos elevar os nossos lados negros à Luz tudo se resolve. Quando conseguimos trazer a Luz do Sol ao lodo interior que habita em nós, o lodo seca e torna-se num campo fértil pronto para ser cuidado. O lodo é criado por acções repetidas, nesta ou noutras vidas, o lodo é mantido por falta de reflexão. As emoções muitas vezes se escondem nesse lodo, o racional pode ajudar a clarificar e transmutar essas emoções.
Não queremos com isto dizer que o lodo é negativo, lembrem-se é no equilíbrio que reside a Sabedoria. O Ying e o Yang devem ser perfeitos em nós!
«Na Justiça o herói precisa de revelar humildade para ouvir conselhos, coragem para agir perante tanta escuridão e discriminação para escolher o que deve permanecer o que deve transmutar. As escolhas feitas no equilíbrio darão a chave para avançar da Lua ao Sol!»